Diário Espiritual
A gente muda de cidade, de casa, até de companhia… e, ainda assim, a alma pode continuar dormindo no mesmo lugar em que foi ferida.
Escrevi um conto em que a estrada representava o novo. Mas a cozinha, cheia de cheiros antigos, objetos que guardam histórias, silêncios pesados, lembrava que há partes de nós que insistem em ficar no passado.
Jesus falava muito sobre isso, de formas simples e profundas.
Quando disse “ninguém põe vinho novo em odres velhos”, Ele não falava apenas de recipientes e bebidas, mas da vida. Não adianta tentar colocar um caminho novo dentro de uma estrutura moldada pelo velho. Antes de viver o novo, é preciso perceber onde ainda estamos guardando o coração.
E lembro também de outra frase: “Onde está o teu tesouro, aí estará também o teu coração.”
O tesouro não é só o que amamos… é também o que alimentamos, mesmo sem perceber. Às vezes, o tesouro que ocupa o coração é uma lembrança amarga, um lugar que já não nos cabe, mas que seguimos visitando por hábito.
Hoje, eu me pergunto: onde minha alma está dormindo?
E, mais do que isso, em que lugar eu quero que ela acorde?
A minha resposta está se construindo devagar, como quem volta para a estrada depois de ter coragem de entrar na cozinha e encarar tudo o que ainda estava lá.
Seguir em frente não é correr… é escolher onde o coração repousa.