Diário Espiritual
Às vezes, me dou conta de que, diante de certas dores,
talvez eu tivesse ido embora antes da cura.
Não por frieza. Mas por exaustão.
Não é fácil insistir quando tudo parece contra.
Quando a comunicação falha,
quando o cansaço vira desculpa,
quando o silêncio machuca mais do que um grito.
E eu percebo, com uma pontada de vergonha e verdade,
que nem sempre teria ficado.
Talvez, em alguns momentos,
eu teria desistido…
só pra não ter que lidar com o que dói e não muda.
Carrego uma espiritualidade que fala sobre perdão, sobre entrega.
Mas aqui dentro ainda vive um orgulho antigo,
uma mágoa que não grita, mas se deita ao meu lado nas noites longas.
Uma voz pequena que sussurra:
“Vai embora antes de ser esquecida.”
E aí me pergunto:
Será que isso invalida tudo o que eu acredito?
Mas não.
Porque espiritualidade não é ausência de sombra.
É coragem de sentar com ela.
O orgulho, a raiva, o desejo de desaparecer antes de ser rejeitada…
são partes de mim que pedem colo, não condenação.
Talvez o que Deus mais espere de mim
não seja a perfeição inatingível…
mas a sinceridade de não mentir pra mim mesma.
Hoje, não quero me forçar a ser forte.
Quero apenas ser real.
Porque toda vez que escolho me ver com verdade,
uma parte da minha alma volta a respirar.
Espiritualidade não é sobre não cair.
É sobre levantar com mais consciência…
e continuar com mais verdade.