Diário Espiritual
Era o lugar onde estavam guardadas minhas coisas… minhas memórias, minhas raízes, meu passado.
Mas por mais que eu limpasse, ele continuava sujo.
Chão sujo, cheiro forte, marcas de abandono.
Eu esfregava com as mãos, procurava pano, sabão, qualquer coisa que me livrasse daquela sensação de asco…
Mas nada funcionava.
A sujeira voltava, como se quisesse me lembrar de algo que eu preferia esquecer.
Acordei com o corpo ainda retraído, como se o sonho tivesse tocado em uma ferida antiga, ou atual.
Quantas vezes a gente insiste em limpar um espaço que nunca foi feito pra nos acolher?
Quantas vezes tentamos purificar o que já nasceu contaminado de controle, silêncio e culpa disfarçada?
Às vezes, o mais difícil não é reconhecer que algo está errado.
É perceber que o esforço para consertar está nos adoecendo.
É duro aceitar que tem ambientes que adoecem até a alma.
Relacionamentos em que cada gesto seu é corrigido, em que suas escolhas são revistas, em que até abrir uma janela vira motivo de silêncio e incômodo.
Você tenta se ajustar, se encolher, se adaptar… até perceber que virou alguém que mal se reconhece.
Mas chega uma hora em que o corpo avisa.
A alma grita.
E até os sonhos começam a contar o que a gente tem medo de ouvir.
Talvez o que você precisa não é de mais força para limpar.
É de coragem para sair.
Nem sempre o amor verdadeiro é o que insiste.
Às vezes, ele é o que liberta.